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HÁ QUASE 100 ANOS TAUBATÉ TEVE UM PREFEITO DE VERDADE

Houve uma época em Taubaté que os eleitores foram mais inteligentes e escolheram a pessoa certa para prefeito, e fazer de Taubaté a Capital do Vale do Paraíba.

Publicada em 26/12/24 às 11:36h - 162 visualizações

por João Angelo Guimarães


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 (Foto: JPB Estúdio Mix)










HÁ QUASE 100 ANOS TAUBATÉ TEVE UM PREFEITO DE VERDADE

 

Taubaté está vivendo um inferno astral político e social, com os seus mandatários, prefeito e vereadores, mantendo a cidade num verdadeiro retrocesso em todos os níveis. Essa é a opinião corrente que se pode perceber nos grupos de Taubaté no Facebook, onde os munícipes diariamente apontam os erros, as omissões e a gastança exacerbada do dinheiro público dos contribuintes, em obras mal feitas e pagamento de altos salários a assessores incompetentes da prefeitura e da câmara.

 

O que não falta nesses grupos são as comparações com outras cidades próximas de Taubaté, como Tremembé, Caçapava e Pindamonhangaba, que nos últimos 10 anos tiveram um salto de qualidade nos serviços públicos oferecidos à população, coisa que em Taubaté a precariedade é a mesma desde o século passado.

 

Parece que os eleitores dessas cidades vizinhas escolheram melhor os seus representantes políticos do que os eleitores de Taubaté. O marasmo que a cidade está vivendo só pode ser culpa do próprio morador de Taubaté, que num primeiro momento escolhe mal prefeito e vereadores, e na sequência não fiscaliza e não cobra desses agentes políticos a prestação do serviço público de qualidade.

 

Mas, houve uma época em Taubaté que os eleitores foram mais inteligentes e escolheram a pessoa certa para prefeito, e fazer de Taubaté a Capital do Vale do Paraíba. Novo aviso, para relembrar essa história, lá vem textão, portanto, para quem não gosta de ler, deve voltar para o WhatsApp.

 

A VIRADA DO AGRONEGÓCIO PARA A INDÚSTRIA

Corria o ano de 1925, e Taubaté estava em franca campanha eleitoral para eleger o próximo prefeito da cidade, o sexto a tomar posse desde a criação do cargo de intendente em 1908, como se chamava o prefeito à época. Houve uma guinada na escolha do candidato por parte dos eleitores, quebrando uma sequência de mais de 50 anos de predomínio dos barões do café na política taubateana. Sai o agronegócio e entra a indústria, com Félix Guisard, o fundador da CTI - Companhia Taubaté Industrial, sendo eleito o novo prefeito para o período de 1926 a 1930.

 

Matéria publicada no Jornal Beira-Mar do Rio de Janeiro

 

Nesse tempo Taubaté era uma cidade rica, com o dinheiro vindo da cultura do café e dos latifundiários, que ganhavam rios de dinheiro graças a exploração da mão-de-obra escrava, com os primeiros resultados dessa fortuna por volta de 1850. As fazendas de café passaram a ser gerenciadas por um administrador da escolha do fazendeiro, que cuidava de todo o processo de cultivo e produção do café, e o rico fazendeiro com isso, resolveu trazer a família para a cidade, morando em suntuosos casarões e curtindo o tempo livre para seus divertimentos. Para tanto, começou a investir na infraestrutura da cidade, para seu conforto, na construção do Teatro São João, da iluminação a gás noturna, nos serviços de bondes e carruagens, os filhos enviados para estudar fora, enfim, tudo aquilo que o farto dinheiro do café podia comprar.

 

Enquanto isso, a população passava à míngua, ficando com as migalhas que caiam das mesas do baronato cafeeiro. A política era dominada inteiramente pelos fazendeiros, tendo à sua volta os lacaios e sicários que os serviam, em troca de pagamentos e benesses, que conseguiam com a adulação e a bajulação aos ricos cafeicultores. Uma Câmara Municipal subserviente aos caprichos desses barões do café e latifundiários, que pensavam apenas nos seus lucros. Eram raras as exceções de homens nessa classe abastada, que pensavam nos menos afortunados e ajudavam a minorar o sofrimento das pessoas.

 

O Visconde de Tremembé era avô de Monteiro Lobato

 

No final do século 19, a região do Vale do Paraíba começou a experimentar o declínio da cultura cafeeira, com o esgotamento das terras pelo mau uso e manejo, a concorrência do noroeste paulista e de outros países, com um café de melhor qualidade, fazendo o preço despencar no mercado internacional. O golpe fatal veio com a abolição da escravatura, levando muitos fazendeiros à falência, que fizeram altos empréstimos em bancos, dando em garantia hipotecária, o valor baseado que fizeram no investimento com a compra dos seus escravos.

 

A SEGUNDA FUNDAÇÃO DE TAUBATÉ

Taubaté não se tornou mais uma das cidades mortas, juntamente com Bananal, Areias e São José do Barreiro, descritas por Monteiro Lobato em uma de suas obras, graças a iniciativa de Rodrigo Nazareth de Souza Reis, médico e empresário do Rio de Janeiro, morando em Taubaté.

 

Félix e Rodrigo Nazareth foram os principais acionistas da CTI

 

Convenceu Félix Guisard, um empresário nascido em Teófilo Ottoni, descendente de franceses, morando e trabalhando no Rio de Janeiro, a não montar sua fábrica em Petrópolis, e sim em Taubaté. Corria o ano de 1891, e assim começa em Taubaté a industrialização das grandes fábricas no Vale do Paraíba Paulista, com a fundação da CTI - Companhia Taubaté Industrial. O complexo industrial construído por Félix Guisard durou 92 anos, e teve quase 3.000 funcionários diretos, trabalhando nos 8 prédios industriais da CTI.

 

Apesar de alguns historiadores dizerem que o capital do café impulsionou a indústria brasileira, pelo menos em Taubaté isso não foi verdade. O dinheiro dos barões do café taubateano não chegou a 12% do capital investido na CTI, com o restante das ações bancadas pela família Guisard e comerciantes do Rio de Janeiro.

 

Félix Guisard estabeleceu-se em Taubaté com sua família, e com isso começou uma disputa política entre o agronegócio e a indústria. Perdendo a hegemonia financeira do café, e vendo o crescimento do capital industrial, as famílias tradicionais da cidade se viram ameaçadas nos seus interesses, com Félix Guisard conquistando os munícipes com sua iniciativa social que ia além de sua fábrica, espalhando por toda Taubaté sua visão cosmopolita de cidade grande.

 

A CTI começou por fazer crescer geograficamente a cidade, desenvolvendo a região onde foi construída, que era zona rural, passando a ser um núcleo urbano industrial e comercial de ponta, com ruas novas e novas construções residenciais. A chácara onde se localizava sua residência, que tinha mais de 70.000 pés de laranjeiras, tornou-se depois dois bairros da cidade, de alto padrão - o Jardim das Nações e o bairro da Independência.

 

O entretenimento cultural, que antes apenas servia aos barões do café e a classe mais abastada, com Félix Guisard passou a ser uma conquista do operariado e do povo comum, com grupos de teatro, banda de música, coral de vozes, orquestra de jazz, folias de carnaval, cinema e festas durante o ano todo. Seus operários também tinham assistência médica, cooperativa de consumo, escola profissionalizante, grupo escolar, clube social e de campo, férias coletivas, colônia de férias em Ubatuba e acesso a aquisição de casa própria, tudo isso sendo dado a seus funcionários muito antes da criação da CLT no governo de Getúlio Vargas.

 

PREFEITO SEM APOIO DA CÂMARA MUNICIPAL

Quando assumiu a prefeitura em 1926, Taubaté se encontrava em estado precário, com a administração sucateada e uma dívida monstruosa. E ainda por cima, tinha uma Câmara Municipal repleta de opositores, ligados à família Costa, representados por Pedro Costa e seu irmão César Costa, que já tinham sido prefeitos, inimigos políticos de Félix Guisard, praticamente desde que ele entrou para a política em 1905.

 

Os irmãos Costa foram prefeitos em mandatos anteriores ao de Félix Guisard

 

E não por menos, Félix Guisard foi vítima dessa política suja. Quando vereador no primeiro mandato, foi espancado na frente de sua mulher na estação ferroviária, e também em outra ocasião tomou um tiro no pé, sendo obrigado a renunciar ao seu mandato. Em 1917, o prefeito César Costa manda arrancar a tubulação de água que abastecia a CTI de Félix Guisard, causando um prejuízo milionário na produção de morins e cretones da fábrica. Também, nessa época, Félix Guisard Filho era vereador e teve que renunciar ao mandato para não prejudicar os negócios da família. Sem falar em um incêndio suspeito em 1898, que consumiu o prédio da fábrica e a produção estocada, quase levando Félix Guisard à falência.

 

Com a visão empreendedora e futurista de que era dotado, Félix Guisard como prefeito de Taubaté colocou tudo em ordem. Fez uma devassa nas contas da prefeitura, identificando os indícios de corrupção e malversação do dinheiro público, conseguindo pagar toda a dívida que a prefeitura devia aos fornecedores até o final de seu mandato.

 

Nesse prédio atualmente funciona a Rádio Difusora de Taubaté

 

Fez uma revitalização total do centro da cidade, consertando as ruas e vias locais, abrindo novas ruas nas regiões leste e oeste, reformando a praça da catedral, a Praça do Pilar e o Parque da Estação. Reparou as estradas municipais existentes e abriu novas, recuperou também a estrada que ligava Taubaté a Natividade da Serra.

 

Com sua influência trouxe para Taubaté a Escola Normal Livre, o curso do ginásio do Estado, uma escola de agronomia e veterinária. A usina de eletricidade da CTI, instalada em Redenção da Serra, a partir de 1927 também passa a fornecer energia elétrica a Taubaté, Redenção da Serra, Natividade da Serra e Ubatuba.

 

Como prefeito, com seu dinheiro construiu e doou para a cidade o Asilo de Mendigos e Velhos inválidos, onde hoje é o prédio do Centro Cultural Toninho Mendes, na Praça Coronel Vitoriano. Nesse período, começou a construção de uma nova ala para tratar tuberculosos no Hospital Santa Isabel, também com seu próprio dinheiro.

 

TAUBATÉ COMO CAPITAL DO VALE DO PARAÍBA

Mesmo antes e depois de ser prefeito, Félix Guisard sempre participou e foi responsável pelo desenvolvimento urbano de Taubaté. Ele e sua família estiveram ligados a outras iniciativas que surgiram na cidade, com a participação e o dinheiro deles sendo investido na Companhia de Cinemas do Vale do Paraíba, Companhia Predial de Taubaté, na Fábrica de Doces Embaré, na Companhia de Sedas Phalena, no Banco do Vale do Paraíba, na Rádio Difusora de Taubaté, no Aeroclube de Taubaté, na fundação do Taubaté Country Clube, do Clube Náutico de Taubaté, e nas obras sociais como o Orfanato Santa Verônica, Casas Pias de Taubaté, Hospital Santa Isabel, ajudando também nas obras religiosas, na reforma da catedral e na construção de um novo altar da igreja de Santa Teresinha. O Esporte Clube Taubaté, fundado em 1914, ganhou da família Guisard o terreno onde hoje é o Estádio de Futebol Joaquim de Morais Filho, no Jardim das Nações.

 

Foi Félix Guisard e a CTI - Companhia Taubaté Industrial, que transformou uma cidade que era puramente rural e agrícola, num grande centro urbano, com vários serviços e equipamentos públicos de primeira qualidade. Com isso, Taubaté se tornou a Capital do Vale do Paraíba nos anos 40 e 50 do século 20.

 

Félix Guisard morreria em 1942 aos 80 anos, e mesmo com membros da família assumindo a prefeitura nos anos seguintes, Taubaté iria perder seu protagonismo de maior centro urbano e industrial do Vale do Paraíba para São José dos Campos, que continuou a saga das boas políticas públicas de desenvolvimento e crescimento urbano, social, científico e industrial.

 

Sem Félix Guisard, Taubaté nunca mais voltou ao pódio máximo da região, ao contrário, em muitas ocasiões foi sinônimo de esperteza, corrupção e falcatruas no cenário nacional, passando ao anedotário popular, com a velhinha de Taubaté, a Grávida de Taubaté, e por aí vai.

 

O que se depreende disso tudo são os velhos ensinamentos proverbiais batidos e muito usados, para classificar a situação caótica e arbitrária de Taubaté - “Povo que não sabe de onde veio, não sabe para onde vai” - “Povo que não conhece sua história, tende a repetí-la” - “É fácil enganar alguém, difícil é convencer alguém de que foi enganado” - “Cada povo tem o governo que merece”.





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