DIVAGAÇÕES SOBRE AS ELEIÇÕES DE TAUBATÉ E AS ESCOLHAS DE SEUS ELEITORES
Para bom entendimento do que vamos comentar aqui, é necessário que se faça um breve resumo da campanha eleitoral deste ano.
As eleições municipais de 2024 em Taubaté tiveram um resultado surpreendente. De um lado, a vitória de um candidato a prefeito que é neófito na política, e do outro lado o que se esperava e o que sempre acontece, a reeleição de dois terços dos vereadores.
Contra todas as expectativas, Sérgio Victor, do partido Novo, 37 anos, é o prefeito eleito mais novo que já se candidatou em Taubaté.
As pesquisas oficiais encomendadas pela TV Vanguarda, no primeiro e segundo turnos, davam como certa a vitória de Ortiz Júnior, eleito que seria para um terceiro mandato, a exemplo de seu pai, Bernardo Ortiz, que desde 1983 mandava e desmandava na política taubateana, até sua morte em setembro deste ano.
Quanto aos eleitos da Câmara Municipal nenhuma novidade, apenas 5 vereadores não se reelegeram, permanecendo dois terços dos atuais vereadores, apesar das severas críticas de subserviência ao prefeito.
Comecemos as divagações - o eleitor taubateano normalmente tem uma conduta que não é de hoje, conservadora, tradicionalista, e podemos dizer na sua pior acepção, descompromissado e ignaro da história da cidade, e tudo o que já aconteceu por aqui em Taubaté, e com raras exceções, alguns cidadãos conhecem e se interessam pela trajetória dessa cidade que ruma ao seu quarto centenário.
Não sem razão, eleitores, cidadãos nascidos e os que moram e vivem em Taubaté, reclamam de tudo, do serviço precário da saúde pública, da educação da rede pública ineficiente, da mobilidade urbana imobilizada em congestionamentos, das ruas esburacadas, dos acidentes e mortes no trânsito todos os meses, da falta de atendimento às pessoas em situação de vulnerabilidade social dormindo nas ruas, da sujeira generalizada e do descaso com o meio-ambiente por toda a cidade. Com certeza reclamam nos grupos das redes sociais como o Facebook e o WhatsApp, culpando prefeito e vereadores pelo descaso e abandono a que a cidade está entregue.
Aqui, abrimos uma divergência sobre essa culpa debitada ao prefeito e aos vereadores de plantão. Os verdadeiros culpados são a maioria dos eleitores que, ao depositar seu voto na urna, elegem candidatos que no mínimo são despreparados, e em via de regra, pouco se importam em cumprir suas promessas de campanha.
Exatamente pela maioria dos taubateanos serem ignorantes em conhecer a história da cidade, acabam acreditando em contos de fadas, coelhinho da páscoa, Papai Noel, etc. E aí, cabe em cheio a velha citação - “Povo que não conhece sua história tende a repeti-la.”
Para sacramentar o aforismo, é exatamente o que acontece em Taubaté, a história vem se repetindo ciclicamente, e graças a toda essa ignorância dos seus cidadãos, Taubaté perdeu o protagonismo que tinha nas décadas 1940 e 1950 do século passado, deixando de ser a Capital do Vale, e no momento perdendo posições até para cidades vizinhas menores que Taubaté, como Pindamonhangaba e Caçapava.
Como acontece em todo Brasil, Taubaté tem o predomínio de famílias que pontuam na política, monopolizando legislativo e executivo com a velha-nova política do assistencialismo, do clientelismo, do fisiologismo, abusando do egocentrismo do eleitor que só se interessa pelo seu próprio bem-estar, recebendo cestas básicas, pagamentos de contas de água e luz, primazia no atendimento médico, e por aí vai.
A esta altura do artigo, os haters e os sicários de plantão já estarão espumando pela boca, de raiva, hipocritamente dizendo que as divagações não passam de ilações. Como pérolas não são jogadas aos porcos, continuamos com as assertivas.
AS FAMÍLIAS NA POLÍTICA DE TAUBATÉ
Com o recente falecimento do patriarca da família Ortiz Monteiro, e a perda de Ortiz Júnior para Sérgio Victor na eleição para prefeito de Taubaté, muitos analistas políticos da cidade afirmaram que a hegemonia de 42 anos dos “Ortizes” na política taubateana chegou ao fim. Para muitos taubateanos que não conhecem a história de Taubaté, essa hegemonia da família Ortiz Monteiro não foi a única e nem foi um fato isolado.
Outras famílias já predominaram no cenário político da cidade, e essa polarização de grupos políticos hegemônicos é que faz a cidade perder o rumo do progresso e claro, perder a democracia plena. Quando uma família que à cabeça de um clã político toma o poder, resta como conclusão a citação de Friedrich Nietzsche: “Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos.”
Não é de hoje que o povo taubateano assistiu indefeso essa guerra das famílias poderosas, que tinham seus tentáculos de influência na política estadual e federal, amealhando para seus familiares e asseclas rendosas e polpudas oportunidades em outras esferas de negócios. Enquanto isso, o povo continuava com os mesmos problemas, afinal, manter o povo ignorante e atado é o que perpetua esses agrupamentos familiares no poder.
Taubaté sempre teve em algum momento na história nacional políticos da terra envolvidos em cargos e questões federais, alguns com posicionamento social e democrático, mas outros mais apenas querendo se forrar de poder e dinheiro. E esse predomínio começava na própria cidade, traduzindo-se em muitos votos obtidos para o confronto político.
Refrescando a memória, ou mesmo informando de primeira mão o incauto leitor e eleitor, que até agora está tendo a paciência de ler esta matéria, vamos enumerar resumidamente as famílias que tomaram o poder político no legislativo e executivo, como prefeitos e vereadores, deixando de fora os cargos de deputados e senadores para que o artigo não fique muito extenso, uma vez que muitos desses familiares assumiram cadeiras nos parlamentos estaduais e federais. Mesmo porque se for enumerar todas as famílias que exerceram o poder municipal desde a criação da aldeia, seriam laudas e mais laudas para registrar o quanto o taubateano vota mal.
Vamos iniciar o período em 1908, quando foi a eleição do primeiro prefeito em Taubaté. Anteriormente a essa data havia apenas o cargo de Intendente Municipal, um vereador escolhido pelos seus pares para cuidar da administração da cidade.
Começando pela família Oliveira Costa, que foi ferrenha adversária da família Guisard, e que segundo alguns pesquisadores, foi a responsável por apagar da memória da cidade as benfeitorias e as obras deixadas por Félix Guisard para a cidade.
A Família Peixoto também pontuou longamente na política taubateana, primeiramente em vôo solo e depois atrelada a família Ortiz Monteiro, de quem se tornou inimiga a partir de 2005. Fica o registro de uma permanência longa em mandatos na Câmara Municipal.
Os Ortiz Monteiro começam na política taubateana na primeira metade do século 20, e depois hegemonicamente a partir de 1982, elegendo pai e filho prefeitos, e no interregno de cada mandato do pai, os prefeitos seguintes foram indicações vitoriosas nas eleições subsequentes. Como adversários na política a família Mattos rivalizou no poder no final do século 19 e no primeiro quartel do século 20.
A família Guisard a partir do fundador da CTI - Companhia Taubaté Industrial, a primeira grande fábrica de fiação e tecelagem do Vale do Paraíba em 1890, Félix Guisard, foi muito presente em Taubaté, não só na política em si, mas em todos os outros setores da vida taubateana. Monteiro Lobato disse em carta a Félix Guisard Filho, no ano da morte de seu pai, que Félix Guisard foi o segundo fundador de Taubaté, e que se não fosse a fundação da CTI em 1890, Taubaté seria mais uma das cidades mortas do ciclo cafeeiro. Ainda hoje, andando pela cidade são evidentes os vestígios da época de ouro de Taubaté, quando a família Guisard usou de seu dinheiro e patrimônio para fazer de Taubaté a Capital do Vale do Paraíba. Vários historiadores e pesquisadores colocam a família Guisard como o exemplo mais benéfico do uso político em prol de toda uma população na promoção social e cultural, visando o bem-estar e a qualidade maior de vida.
Concluindo, podemos dizer que o taubateano, e uma boa parte do povo brasileiro é manipulado por poderosas famílias que se inserem na política e nos cargos públicos para se locupletarem de benesses e benfeitorias.
Não se justifica a ignorância dos taubateanos pelo atual estado de coisas em que se encontra a cidade, com todos os serviços precarizados e sem um viés de crescimento sustentável. Isso só pode ser mudado a partir da vontade do cidadão taubateano conhecer mais de sua história, conhecer mais sobre as engabelações políticas que Taubaté já viveu, e com isso parar de eleger os hipócritas manipuladores da boa-fé dos cidadãos de bem.
Parafraseando um jornalista da TV - “Isso é uma vergonha.”