Por Raphael Sanz
O escândalo das pedras preciosas presenteadas à presidência da República que Jair Bolsonaro (PL) desviava para o seu acervo pessoal, agora ganha um fato novo: o e-mail em que a ajudância de ordens é orientada a entregar tais pacotes pedras preciosas ao tenente-coronel Mauro Cid, ao invés de registrá-las no acervo do Palácio do Planalto, foi revelado.
As mensagens constam em relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entregue à CPMI dos Atos Golpistas. Cleiton Henrique Holzschuk é o membro da ajudância de ordens que envia a mensagem em questão aos colegas.
O ex-presidente Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro receberam em 26 de outubro de 2022, respectivamente, um envelope e uma caixa contendo pedras preciosas. Mas os presentes não constam na lista de 46 páginas e 1055 itens recebidos durante o mandato.
Em 27 de outubro de 2022, no dia seguinte ao recebimento das pedras preciosas, a referida mensagem de Holzchuk apareceu em troca de e-mails com outros dois colegas: Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti.
Holzchuk ordena que o envelope e a caixa de pedras preciosas, que seriam de Jair e Michelle Bolsonaro, não fossem cadastrados na lista de presentes recebidos pelo então presidente e entregues a Cid. Além disso, o sagento Marcos Vinícius Pereira Furriel deveria ser acionado em caso de alguma dúvida ou dificuldade.
“Foi guardado no cofre grande, 01 (um) envelope contendo predas preciosas para o PR (presidente) e 01 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teólifo Otoni em 26/10/22. A pedido do TC (tenente-coronel) Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele (Cid). Demais duvidas, Sgt Furriel está ciente do assunto,” diz o e-mail de Holzchuk.
Os e-mails foram analisados pela CPMI dos Atos Golpistas que tenta chegar aos mandantes e financiadores do processo golpista que começou durante o mandato de Bolsonaro, escalou após o segundo turno das últimas eleições e resultou nos ataques de 8 de janeiro.
Nesse contexto, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) revelou o escândalo na última terça-feira (1), durante sessão da Comissão. Baseada nos mesmos dados da Abin, a parlamentar denunciou o que pode ser um novo escândalo de corrupção de Bolsonaro.
“Na minha interpretação, só tem duas possibilidades para essas joias secretas. Ou é uma corrupção pura e simples, em que ele pega a pedra e fica com o dinheiro para si, o que é um crime e como tal terá que ser indicado dessa forma pela CPMI. Porque um presente pessoal ao presidente da República só pode ir até 100 reais e não me parece que uma caixa de joias para a primeira-dama e um envelope de pedras preciosas para o Bolsonaro estejam dentro desse valor. Obviamente isso deveria ter sido registrado e protocolado. Então, ou ele roubou o patrimônio público para si, ou usou esse recurso para financiar os atos golpistas”, disse a deputada Jandira Feghali com exclusividade para a Revista Fórum.
Jandira agora pressiona a comissão para que o caso seja investigado. A parlamentar requereu nessa semana a presença dos ajudantes de ordem envolvidos nessa troca de e-mails, além do próprios Jair e Michelle Bolsonaro, na CPMI dos Atos Golpistas. Também pediu a quebra do sigilo bancário de todos os envolvidos.